quarta-feira, 1 de julho de 2009

Abel Meeropol e Billie Holiday, emoção e coragem latentes.

Há um tempo atrás tive uma aula extremamente especial, que não posso deixar de contá-la. Falamos sobre o poema de um professor de história e judeu, Abel Meeropol, que às escondidas, dava aulas de história para negros, durante a noite. Abel, comprou um galpão, e, lá, repassava seu conhecimento e mostrava como era uma pessoa evoluída em pleno 1925. Eis que um dia, ao trancar o galpão, se depara com um monte de brancos correndo, desesperados... ele se questiona, não entende e decide perguntar para um desses brancos o que está acontecendo, e o branco fala que há algo ocorrendo na praça do sul dos EUA.
Abel, vai até lá e se depara com dois negros enforcados, machucados e pendurados em uma árvore. Obviamente, aquilo o deixa chocado, uma cena perturbadora, mórbida. E ele pergunta: "O que houve?", e respondem: "Aqui a justiça é feita com nossas próprias mãos! Esses homens, estupraram uma garota!" e Abel pergunta: "Mas e a lei?" e respondem: "Nós fazemos a lei!"
Ele estava se deparando com uma situação relacionada diretamente a Ku Klux Klan. Aquilo o preocupou e ao mesmo tempo o deixou chocado. Como agora, ele poderia dar suas aulas aos negros? Seria condenado, até mesmo, morto... Abel, indignado com aquela situação, fez um poema, e, vale enfatizar que este poema, é um dos mais tristes e fortes de se ler. O nome? Strange Fruit. Como Abel não poderia se expor, usou um pseudônimo chamado "Lewis Allan".

Segue o poema:

Southern trees bear a strange fruit,
Ávores do sul produzem uma fruta estranha,
Blood on the leaves and blood at the root,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Black body swinging in the Southern breeze,
Corpos negros nadando na brisa do sul,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Fruta estranha penduradas nos álamos.

Pastoral scene of the gallant South,
Pastoril cena do valente sul,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Scent of magnolia sweet and fresh,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
And the sudden smell of burning flesh!
Depois o repentino cheiro de carne queimada.

Here is a fruit for the crows to pluck,
Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
For the rain to gather, for the wind to suck,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
For the sun to rot, for a tree to drop,
Para o sol apodrecer, para as árvores deixarem cair,
Here is a strange and bitter crop.
Aqui está a estranha e amarga colheita.


As frutas estranhas, uma metáfora onde nota-se perfeitamente à quem ele se refere... o cheiro, a mistura do perfume das magnólias, com o cheiro da carne queimada, é possível até mesmo sentir, junto com a dor que foi causada. Os membros da KKK depois de espancar, enforcar, ainda queimavam os corpos... a insanidade, a crueldade, a anomalia daqueles homens, transparecem no poema de Abel.
Tempos depois, o caso dos homens assassinados foi reaberto e descobriram que na realidade, não foram eles que estupraram a garota, mas sim, um próprio membro da KKK.
O racismo explícito, angustiador, daqueles homens macabros da KKK, que se vestiam daquela maneira, pois, sabiam que os negros do sul dos EUA, acreditavam em alma, e diziam, que se os negros acreditavam em almas, os membros da KKK seriam as almas que os caçariam pelas noites. Agora me pergunto, como alguém, nesse mundo, pode ainda vangloriar algo tão estúpido, tão sujo, tão imundo? Como alguém ainda pode ter tanto preconceito no peito e se orgulhar disso? Onde está o nível de superioridade que esses nazistas estúpidos dizem ter? Enfim, Billie Holiday, MULHER, NEGRA, guerreira, usou sua magnifíca voz, para tornar esse poema uma canção. Em tempos onde negros tinham restrições, em tempos onde não era qualquer bar em que negros poderiam frequentar. E ela teve coragem, e cantou, cantou com fervor, cantou com uma emoção inexplicável, imensurável, cantou como uma mulher que luta, batalha, contra as escórias nazistas. E cantou em todos os bares que pudesse cantar! Billie Holiday, perdeu seu pai, que morreu assassinado pelos "homens" da KKK. Billie Holiday, não teve medo de cantar, de brigar, através da música, com esses "homens".
Enquanto há aqueles que vangloriam mulher melancia, ou celebridades de 15 minutos, Billie Holiday foi a primeira cantora a expor de maneira latente, as injustiças da KKK.
Deixo por último, um vídeo magnífico dessa mulher guerreira, que deveria servir de inspiração para todas as mulheres fúteis e para todos os homens machistas! Junto com o vídeo, deixo minha tristeza, meus arrepios, minha dor e meu luto, por toda a repressão e injustiça que os negros sofreram, principalmente no sul dos EUA.

5 comentários:

Dizzy disse...

Fantastico Byrd
o engraçado e que as pessoas que realmente merecem mérito são ocultadas pela mídia.

Byrd disse...

Valeu pelo comentário, Dracon! Realmente, as verdadeiras celebridades, tipo a Billie Holiday, a maioria das pessoas desconhecem... \:

Fundación Puerco Suíno de Meias disse...

cada vez que entro aqui eu me surpreendo mais com vocês, moçada brava da cidade!
muita força pra todos vocês, que não aprisionam sua rebeldia em estereótipos!
e ó: todos ao Festival Antifa!

Fundación Puerco Suíno de Meias disse...

só pra complementar: o linchamento de negros não era uma coisa restrita à KKK, mas uma prática bastante disseminada entre a população branca dos estados do sul dos EUA. As fotos dos corpos linchados viravam cartões postais que os viajantes saudosos enviavam a suas famílias...

achali disse...

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