segunda-feira, 18 de junho de 2018

O crescimento da ameaça fascista no país (parte 1)



O crescimento da ameaça fascista no país (parte 1)
Por Ellen “F.” Knup

Vivemos em um período delicado, e não se trata somente da evidente polarização que promove desafetos políticos em redes sociais. O perigo deixou de ser virtual bem antes do golpe. No entanto, há até não muito tempo atrás, a identificação de agrupamentos autoritários era dificultosa, visto que a maioria não mostrava o rosto, não criava perfis pessoais e nem se assumia de fato em comunidades de caráter facho. Nos sombrios tempos atuais, eles se expõem publicamente e são participantes ativos em páginas e grupos de entrada acessível a qualquer usuário do Facebook. Em uma nação de democracia jovem, ainda no espírito pós-regime militar, o que antes era visto como um discurso no mínimo vergonhoso agora é motivo de orgulho. E os praticantes do “politicamente incorreto” se proliferam diante de nossos olhos, já não mais de forma oculta.



A questão é que não é “apenas” com o liberalismo que temos que nos preocupar. O surgimento de células fascistas se amplia na medida em que o mundo, em plena era digital, da dita democratização da informação e da comunicação ágil, luta arduamente pela desconstrução desses antigos “princípios” – que não só lesaram como atrasaram o desenvolvimento da humanidade.

Aumenta, a cada instante, a ameaça vinda de movimentos que se formaram por meio de doutrinas ideológicas que exaltam, parcial ou totalmente, o neonazismo, o nacionalismo, o separatismo, o integralismo, a xenofobia, a homofobia, o racismo, a misoginia e outras formas discriminatórias de ataque a minorias. Logo, o risco de mais perseguições covardes de aglomerações de extrema direita se agrava conforme a sua popularidade se acelera atualmente.

Em uma simples pesquisa on-line é perceptível o ganho de adeptos em coletivos de cunho opressor. Mais assustadora ainda é a constatação de que grupos de estrutura explicitamente facho estão em ascensão. Alguns pequenos detalhes até mudam de um bando para outro, mas ideologicamente o discurso é o mesmo – culpabilizando o mandato petista pelos esquemas de corrupção que assolam o país, floreando épocas de regimes totalitários, exaltando líderes tiranos e enxovalhando as pautas esquerdistas. A esquerda não só incomoda a extrema direita como desperta nela a incitação à violência – e isso com o aval de seus seguidores, pessoas aparentemente “normais” de todas as idades e adotantes dos lemas da família tradicional e do “cidadão de bem”.

Para exemplificar a gravidade dessa onda citada na introdução, o movimento separatista O Sul é Meu País possui cerca de 130 mil curtidores em sua página oficial do Facebook. É o maior do segmento, mas não se restringe apenas aos sulistas. Trata-se de um fenômeno que se alastrou no país inteiro. Há por volta de 23 agremiações em todo o Brasil, distribuídas nas cinco regiões, conforme noticiado pelo jornal Gazeta do Povo em agosto passado. São milhares de reivindicadores exigindo a transformação de seus estados em países independentes levantando discursos direitistas.

Já a fan-page da Frente Integralista do Brasil, afamada por formar milícias e gerar divisões violentas que atacam homossexuais, ostenta 13 mil curtidas. Gangues nacionalmente conhecidas por crimes de ódio, como Carecas do Subúrbio e Carecas do Brasil, possuem juntas mais de 9 mil seguidores oficiais na rede de relacionamentos. Embora pareça uma piada (e infelizmente não é), há até mesmo um irmanamento influenciado pela gestão nacional-socialista alemã. O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Brasileiros – PNSTB 88, inspirado no governo do genocida Adolf Hitler, está em processo de regulamentação partidária no TSE, segundo o fundador Harryson Almeida Marson. Além do número da sigla executar uma menção direta ao termo “Heil Hitler”, a legenda estimula o golpe militar, refere-se à homossexualidade como “promiscuidade cultural”, alega que o holocausto não existiu e milita contra as frentes de esquerda.

O Partido Patriota 51, que no perfil institucional de seu portal registra ser “moralmente conservador, economicamente defensor do livre-mercado e confessionalmente cristão”, luta por um governoem defesa dos valores cristãos, especialmente a defesa da vida desde a sua concepção e a família tradicional como célula fundamental da sociedade”. As metas políticas do Partido Patriota 51 (e da maior parte dos grupos citados acima) em nada se diferem do pregado por integrantes do Carecas do Subúrbio, que há décadas levantam o slogan “Deus, Pátria e Família”.

Essa onda fervorosa é intimidante porque embora os movimentos acima ajam separadamente, estão emparelhados no mesmo fundamento. São ferramentas sociais interligadas que se unem combatendo um inimigo em comum: nós. Temos que aprofundar uma análise sólida para detectar as causas dessa estruturação que se formou em tamanha dimensão que não é mais possível passar despercebida e silenciosa. Esmiuçar a causa do inimigo nos fortalece e antecipa qualquer movimentação. Diante da contextualização do perigo iminente, temos no combate antifascista a injeção de ânimo necessária para resistir e persistir na luta.

O objetivo desta série é abordar a atuação fascista em distintos aspectos sociológicos, com base na criação de siglas partidárias, facções, gangues de rua e movimentos independentes que possuem intenções similares.

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