O crescimento da ameaça fascista no país (parte 1)
Por Ellen “F.” Knup
Vivemos em um período delicado, e
não se trata somente da evidente polarização que promove desafetos políticos em
redes sociais. O perigo deixou de ser virtual bem antes do golpe. No entanto,
há até não muito tempo atrás, a identificação de agrupamentos autoritários era
dificultosa, visto que a maioria não mostrava o rosto, não criava perfis
pessoais e nem se assumia de fato em comunidades de caráter facho. Nos sombrios tempos atuais, eles
se expõem publicamente e são participantes ativos em páginas e grupos de
entrada acessível a qualquer usuário do Facebook. Em uma nação de democracia
jovem, ainda no espírito pós-regime militar, o que antes era visto como um
discurso no mínimo vergonhoso agora é motivo de orgulho. E os praticantes do
“politicamente incorreto” se proliferam diante de nossos olhos, já não mais de
forma oculta.
A questão é que não é “apenas”
com o liberalismo que temos que nos preocupar. O surgimento de células
fascistas se amplia na medida em que o mundo, em plena era digital, da dita
democratização da informação e da comunicação ágil, luta arduamente pela
desconstrução desses antigos “princípios” – que não só lesaram como atrasaram o
desenvolvimento da humanidade.
Aumenta, a cada instante, a
ameaça vinda de movimentos que se formaram por meio de doutrinas ideológicas
que exaltam, parcial ou totalmente, o neonazismo, o nacionalismo, o separatismo,
o integralismo, a xenofobia, a homofobia, o racismo, a misoginia e outras
formas discriminatórias de ataque a minorias. Logo, o risco de mais perseguições
covardes de aglomerações de extrema direita se agrava conforme a sua
popularidade se acelera atualmente.
Em uma simples pesquisa on-line é
perceptível o ganho de adeptos em coletivos de cunho opressor. Mais assustadora
ainda é a constatação de que grupos de estrutura explicitamente facho estão em
ascensão. Alguns pequenos detalhes até mudam de um bando para outro, mas
ideologicamente o discurso é o mesmo – culpabilizando o mandato petista pelos
esquemas de corrupção que assolam o país, floreando épocas de regimes
totalitários, exaltando líderes tiranos e enxovalhando as pautas esquerdistas.
A esquerda não só incomoda a extrema direita como desperta nela a incitação à
violência – e isso com o aval de seus seguidores, pessoas aparentemente “normais”
de todas as idades e adotantes dos lemas da família tradicional e do “cidadão
de bem”.
Para exemplificar a gravidade
dessa onda citada na introdução, o movimento separatista O Sul é Meu País possui
cerca de 130 mil curtidores em sua página oficial do Facebook. É o maior do
segmento, mas não se restringe apenas aos sulistas. Trata-se de um fenômeno que
se alastrou no país inteiro. Há por volta de 23 agremiações em todo o Brasil,
distribuídas nas cinco regiões, conforme noticiado pelo jornal Gazeta do Povo
em agosto passado. São milhares de reivindicadores exigindo a transformação de
seus estados em países independentes levantando discursos direitistas.
Já a fan-page da Frente
Integralista do Brasil, afamada por formar milícias e gerar divisões violentas
que atacam homossexuais, ostenta 13 mil curtidas. Gangues nacionalmente conhecidas
por crimes de ódio, como Carecas do Subúrbio e Carecas do Brasil, possuem
juntas mais de 9 mil seguidores oficiais na rede de relacionamentos. Embora
pareça uma piada (e infelizmente não é), há até mesmo um irmanamento influenciado
pela gestão nacional-socialista alemã. O Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Brasileiros – PNSTB 88, inspirado no governo do genocida Adolf
Hitler, está em processo de regulamentação partidária no TSE, segundo o
fundador Harryson Almeida Marson. Além do número da sigla executar uma menção
direta ao termo “Heil Hitler”, a legenda estimula o golpe militar, refere-se à
homossexualidade como “promiscuidade cultural”, alega que o holocausto não
existiu e milita contra as frentes de esquerda.
O Partido Patriota 51, que no
perfil institucional de seu portal registra ser “moralmente
conservador, economicamente defensor do livre-mercado e confessionalmente
cristão”, luta por um governo “em defesa dos
valores cristãos, especialmente a defesa da vida desde a sua concepção e a
família tradicional como célula fundamental da sociedade”. As metas políticas
do Partido Patriota 51 (e da maior parte dos grupos citados acima) em nada se
diferem do pregado por integrantes do Carecas do Subúrbio, que há décadas
levantam o slogan “Deus, Pátria e Família”.
Essa onda fervorosa é
intimidante porque embora os movimentos acima ajam separadamente, estão
emparelhados no mesmo fundamento. São ferramentas sociais interligadas que se
unem combatendo um inimigo em comum: nós. Temos que aprofundar uma análise sólida
para detectar as causas dessa estruturação que se formou em tamanha dimensão
que não é mais possível passar despercebida e silenciosa. Esmiuçar a causa do
inimigo nos fortalece e antecipa qualquer movimentação. Diante da
contextualização do perigo iminente, temos no combate antifascista a injeção de
ânimo necessária para resistir e persistir na luta.
O objetivo desta série é abordar
a atuação fascista em distintos aspectos sociológicos, com base na criação de
siglas partidárias, facções, gangues de rua e movimentos independentes que
possuem intenções similares.
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