O crescimento da ameaça
fascista no país (parte 2)
Por Ellen “F” Knup
No dia 7 de julho de 2018, membros de facções de inclinação
fascista se reunirão no ABC paulista para mais uma edição do Winterfest, evento
tradicionalmente conhecido como disseminador do movimento RAC (Rock Against
Communism). O agrupamento nada mais é do que um propagador de bandas
simpatizantes da ideologia white power
(supremacia branca), do ultranacionalismo e da xenofobia. Como de praxe, a
divulgação do local será feita de forma sigilosa para evitar ação direta antifa.
No entanto, a filosofia de seus adeptos está mais do que escancarada nas redes
e essa realidade alerta para a urgente necessidade de união entre as ramificações
de esquerda para que a tendência não se agrave ainda mais.
A comerciante paulistana Soninha, proprietária da Hated Store - localizada na Galeria do
Rock (SP)-, é uma assumida apreciadora de Adolf Hitler e chegou a ser detida
por apologia ao nazismo em 2006, quando a polícia apreendeu camisetas com
estampas de suásticas à venda. Há legislação cabível para a infração. Segundo a
lei nº 7.716/1989, é prevista punição para quem comete o chamado Crime de Divulgação de Nazismo: “§Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem suástica
ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena – reclusão de dois a cinco
anos e multa”.
A conta de Soninha no Instagram exibe livremente essas insígnias
e sua loja comercializa itens de cunho intolerante há anos, além de apoiar e
financiar encontros de gangues como NS/WP, Impacto Hooligan, Front 88 e similares.
Esses bandos agem nas ruas das grandes cidades promovendo ataques a negros,
nordestinos, punks, travestis, homossexuais, pessoas em situação de rua e
gangues rivais.
Já os nacionalistas que se dizem antinazistas negam vínculo
com o segmento nacional-socialista e se dividem entre Frente Integralista,
Carecas do Brasil, Carecas do Subúrbio e Carecas do ABC. O lema “Deus, Pátria e
Família” figura como um legado de moralidade que atua como condição básica para
integrar a coletividade adotada.
O recrutamento de jovens para a fascinação da violência
ganguista embutida na doutrina reacionária mantém uma receita regular: infância
desestruturada, criação severa e cristã, escolaridade baixa, autoestima
vulnerável e necessidade de pertencimento ao pensamento de grupo. A maioria dos
integrantes nas linhas de frente de células fachos possui esses pré-requisitos.
O líder político preponderante dessas organizações é o
deputado Jair Bolsonaro, que recentemente liderou pesquisas de intenção de voto
para o cargo de presidente da República, ultrapassando Lula pela primeira vez.
A popularidade do parlamentar se ampliou nos últimos anos graças a discursos de
caráter preconceituoso, defesa ao regime militar e declarações misóginas,
racistas e homofóbicas. Ainda que em um cenário hipotético de vitória ao
Planalto sua governabilidade seja quase nula, seus eleitores não raciocinam ao
ponto de projetar seus planos de governo sendo aplicados, logo é inegável que
ele pode se eleger e esse perigo eminente se comprova nas redes sociais. Apenas
em sua fan-page oficial há mais de 5 milhões de seguidores.
Giovanna Machado: mulher, nordestina, apoiadora de Bolsonaro,
entusiasta dos Carecas do Subúrbio de Pernambuco, antifeminista, homofóbica e
católica fervorosa. Faz declarações públicas que comparam pessoas LGBTQ+ ao
termo “HIV ambulante” e se anuncia como ativista da extrema-direita. São tantos
contrastes em sua figura que ela sofre discriminação até mesmo entre seus confrades
de pensamento conservador: é desmerecida e humilhada dentro das páginas
anti-antifa do Facebook, nas quais ela ataca as minorias e acaba se tornando
vítima da mesma violência que prega.
O que liga Giovanna, Soninha e componentes das demais
aglomerações opressoras, ainda que não sigam homogeneamente a mesma doutrina, é
uma ignorância fortalecida pelo ódio aos movimentos minoritários e a tudo que a
esquerda representa. São pessoas que reduzem justiça social a “mero”
assistencialismo, que desprezam ações progressistas, que invalidam o princípio
laico do Estado para exigir legitimidade exclusiva aos pensamentos religiosos,
que responsabilizam os mandatos petistas por todas as práticas corruptas que
assolam o Congresso – ignorando o simples fato de que a ausência de denúncias
de infrações cometidas por comandantes no período da ditadura é a mais pura
evidência de que investigações eram censuradas.
Cidadãos que pedem intervenção militar, fazem apologia ao neonazismo ou firmam batalhas contra a esquerda têm em comum a mentalidade da guerra, do orgulho patriótico, da sensação de superioridade em relação a outros. Cabe a nós consolidarmos uma frente única para enfraquecermos, estrategicamente, esses movimentos que diariamente captam mais atenção e admiração de insipientes políticos. Não podemos mais nos dar ao luxo da permissividade e “passar pano” para existência de lojas, eventos, páginas, pontos de encontro e anúncios. Sem planejamento para prevenir o alastramento de novas facções e ações diretas para digladiar as existentes, corremos um risco muito maior do que a perda democrática. São as nossas vidas em jogo e os inimigos estão dispostos a tudo. Chegou a hora de provar que nós também estamos.
Um comentário:
Esse blog é muito bom! Não parem! Tem página no face?
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