quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Garotos podres falam sobre skinheads


GAROTOS PODRES DIZ QUE A MAIOR PARTE DE SEU PÚBLICO É DE SKINHEADS ANTIFASCISTAS

Portal: Como está a banda atualmente, em termos de shows, novas músicas, novos projetos, CDs, formação, etc.?

Mao: Atualmente continuamos fazendo shows, ainda estamos divulgando o nosso mais recente cd ao vivo Garotos Podres "Live in Rio", lançado no final de 2001 (por nossa conta), estamos preparando o nosso novo cd que provavelmente esperamos lançá-lo ate o final do ano, acabamos de participar de uma coletânea "Class Pride World Wide Vol.2" pelo selo canadense Insurgence Records, que reúne bandas de varios países, entre elas Angelic Upstarts e Red Alert, que são duas clássicas bandas inglesas, Razzaparte da Itália, entre outras. Ainda este ano a Rotten Records estará lançando o "Tributo aos Garotos Podres", em comemoração aos 20 anos dos Garotos, com a participação de varias bandas. A formaçao atual é Mao-vocal, Mauro-guitarra, Sukata-bateria, "Capitão Caverna" Nunes-bateria.

Portal: Desde o começo dos anos 80, quando a banda foi formada e estourou com as vendagens do primeiro disco, sempre existiu um interesse por parte de gravadoras maiores e de produtores em tentar popularizar a banda. Isso realmente ocorreu? Existiram pressões sobre as letras, estilo e atitudes da banda? Como foi essa experiência com as gravadoras?

Mao: Não existiu esse interesse em popularizar a banda, muito pelo contrário, as gravadoras nunca investiram na banda, nem deram a devida atenção e a maioria delas nos devem até hoje direitos autorais e direitos artísticos. Praticamente "tomamos chapéu" em todas as gravadores que passamos. O caso mais recente foi com a gravadora Paradoxx.

Portal: Quais foram as principais influências da banda no começo e o que os integrantes da banda estão curtindo atualmente?

Mao: As nossas influências foram as bandas punks do final dos anos 70, início dos anos 80. Cada integrante da banda tem suas preferências musicais, praticamente ouvimos de tudo um pouco: ska, punk rock, oi!, hardcore , etc.

Portal: É sabido que a banda tem um grande público forte e fiel, que são Skinheads, que se identificam com o som da banda e sempre estão nos shows. Como é o relacionamento da banda com estes fãs e com os seus ideais? Este público ajuda ou atrapalha a carreira da banda?


Mao: Na verdade a maior parte de nosso público, tanto no Brasil quanto em Portugal, não é constituído de Skins ou Punks. A maior parte de nosso público é formado de pessoas que apenas gostam de nosso som e se identificam com nossas letras e que não necessariamente fazem parte de qualquer "movimento". Desde o início da banda, sempre nos identificamos com o Punk Rock do final dos anos 70, com a Oi! Music do início dos anos 80 e com o Ska "Two Tone" do mesmo período. O fato de sermos considerados uma banda Oi!, acabou por atrair, principalmente no início de nossa carreira, um público de Skins que aqui no Brasil nos trouxe bastante problemas em nossos shows (brigas, etc.). Felizmente há muito tempo não temos qualquer tipo de problemas em nossos shows. Na Alemanha por outro lado, nunca tivemos qualquer tipo de problema e, a maior parte de nosso público é formado por Skinheads antifascistas, que integram movimentos como o SHARP (Skinheads Against the Racial Prejudice - Skinheads Contra o Preconceito Racial), o RASH (Red and Anarchist Skinheads, ou seja, os Skins anarquistas e comunistas) e principalmente os Skins e Punks do Movimento Oi! (o Movimento Oi! é na verdade um movimento que prega a união e, até mesmo a fusão, entre Skins e Punks; muito embora a maioria dos Skins e Punks brasileiros não saibam disso!).


Portal: Sabemos que existe uma confusão e um mal entendido no Brasil, que acaba misturando na mesma categoria pessoas que curtem som Oi! ou o chamado Street Punk, aqueles que mantém um visual estilo Skinhead e cultivam ideais de esquerda ou anarquista, com outras facções como os Skinheads do estilo white power (força branca), que pregam o racismo e o fascismo, são adeptos de Hitler e outros ditadores de direita. Como vcs vêem este tipo de confusão formada? vcs acham que é um problema cultural, já que em países da Europa por exemplo as coisas são bem separadas?

Mao: Achamos que a maior parte dos brasileiros são extremamente desinformados a este respeito!...e infelizmente a maioria dos próprios Skins e Punks daqui no Brasil, também!!...Para começar os "white power" sequer se intitulam Skinheads (eles chamam a si mesmos de "bonneheads?), são absolutamente minoritários na Europa, e no Brasil inteiro devem existir uns 5 ou 6!!! ... Portanto o estereótipo do "Skinhead neonazista", que a mídia "alardeia" como se existissem aos "milhares" e, que se constituiriam numa "grave ameaça" para a "civilização" é, na verdade, "pura ficção"!!!!Acho que as pessoas deveriam se informar um pouco melhor, antes de sair por aí reproduzindo asneiras! ... e se a imprensa burguesa quer perseguir os "fascistas", que persigam os "fascistas de verdade"!! ... porque não perseguem os "Malufs" ou os "Romeus Tumas" que infestam a vida política brasileira??? ... Quem viveu o período da ditadura militar no Brasil, sabe muito bem do que nós estamos falando!!!

Portal: Como foi a experiência da banda em tocar na Europa? Valeu a pena? Como foi a recepção?

Mao: Para nós, tocar na Europa foi a melhor experiência que tivemos em 20 anos de carreira! Se levarmos em conta a população de Portugal, proporcionalmente somos mais conhecidos lá que no Brasil! Tocamos quase todos os dias (em Portugal e Alemanha), rodamos quase 5.000 Km de van, bebemos tudo que era "líquido". Fizemos 3 shows grandes (Lisboa, Berlim e Dresden), e quase uma dezena de shows em locais menores (chegamos a fazer shows em plena 2º feira ... e por incrível por pareça, lotados!). Em Portugal a nosso público se parecia muito com o do Brasil (a maior parte era constituída de pessoas "comuns", havendo poucos Punks ou Skins). Já na Alemanha, ao contrário, o público de nossos shows era quase que exclusivamente constituído por Punks e Skins. Em todos os shows que fizemos na Europa, para nossa surpresa, não vimos uma única briga!; e os caras mais maloqueiros que vimos por lá éramos nós mesmos!

Portal: Vcs tem contato com outras bandas que compartilham do mesmo ideal e estilo em outros países? Quais bandas mais legais que vcs conheceram lá fora?

Mao: Não temos contato com bandas do exterior. Temos apenas alguns contatos com alguns selos da Europa e América do Norte. Quando fomos à Europa, tivemos oportunidade de tocar com o Mata-Ratos (Portugal), Oxymoron (Alemanha) e Braindance (Inglaterra). Como a agenda era corrida, não tivemos tempo de conhecer outras bandas.

Portal: Parece que existe um certo receio por parte de algumas casa noturnas em agendar shows para os Garotos Podres em São Paulo. Por exemplo, no Hangar 110, que é um dos redutos dos maiores e melhores shows de bandas Punks e underground atualmente, não se vê show dos Garotos. Isso é verdade? Porque?

Mao: Muitos anos atrás, tivemos alguns problemas em alguns shows (brigas entre o público). Na verdade não foram problemas tão graves assim, mas como diz aquele ditado popular, "quem conta um conto aumenta um ponto". Se ocorria alguma briga em algum show, no dia seguinte circulava a versão de que havia ocorrido uma "pancadaria generalizada"; se alguém tropeçasse e se machucasse, no dia seguinte circulava o boato que "o cara foi pra UTI", e assim por diante. Curiosamente quando aconteceram verdadeiras tragédias em grandes shows de pagode ou da Xuxa (onde já ocorreram várias mortes), ninguém comentou nada! Realmente, uns 15 anos atrás, tivemos alguns problemas relativamente sérios, relacionados com brigas de gangues em nossos shows, como no Sesc Pompéia em 1986. Cabe ressaltar, que mesmo nesta época, o que ocorreu não foi tão grave (felizmente ninguém morreu ou ficou gravemente ferido), mas começou-se a criar uma verdadeira "lenda" em torno dos Garotos Podres. A partir de então, circulavam boatos que onde quer que nós tocássemos, éramos acompanhados de uma multidão de "carecas", que batiam em todo mundo!.. esses boatos cresceram tanto, que em muitos casos, produtores de shows tinham medo inclusive de "nós", pois temiam que nós, os músicos, viéssemos bater no público!!.. Apesar de não termos tido mais nenhum problema nos últimos 15 anos (felizmente!), o "preconceito" em relação à banda continua, e obviamente isto dificulta o agendamento de nossos shows, principalmente na Grande São Paulo.

Portal: Como é o relacionamento da banda com a mídia brasileira? Existe alguma mágoa ou problema que a banda tenha sofrido ao longo da carreira com órgãos com MTV, Rádios Rock ou revistas especializadas em Rock?


Mao: Curiosamente nunca tivemos nenhum problema mais grave com a mídia, principalmente com a mídia "escrita", a qual em geral sempre tivemos um bom relacionamento. Em relação às rádios e a tv, sempre conseguimos algum espaço, embora limitado. Temos consciência de que a limitação deste espaço, não é decorrente de "boicote" ou "preconceito", mas porque cada vez mais as rádios e tvs dependem do tristemente famoso "jabá". E como nós, e a maioria das bandas undergrounds não estamos em nenhuma grande gravadora que pague este "jabá", o espaço que temos nas rádios e tvs é bastante limitado.

Portal: Vcs querem deixar alguma mensagem especial aos fãs da banda, que com certeza são milhares em todo o Brasil?

Mao: Um abraço a todos...


Fonte: CMI

Um comentário:

João Caminotto disse...

Porra meu, mao é foda!! garotos é gringo demais!
Viva Garotos!